Sergio Cruz Lima
Afinal, quem ganhou a Guerra do Paraguai?
Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Após 150 anos do fim da Guerra do Paraguai, uma pergunta ainda exige resposta: afinal, quem ganhou a guerra? O vitorioso Brasil, por certo, não o foi. A conquista militar pode ser considerada uma vitória inútil.
O Império, que conquistara a supremacia na América Latina diante da eterna rival Argentina e vivia, talvez, o seu melhor período em razão do conflito adquire uma imensa dívida com os bancos ingleses que, por pouco, não o leva à bancarrota. O estoque da dívida equivale a 11 anos do orçamento imperial, que passa a ficar no vermelho a partir dessa época. Por outro lado, a guerra trouxe em seu bojo a República, face o fortalecimento do Exército e o seu distanciamento do poder imperial, além do descontentamento com o Império pelos antigos aliados. Assim, a monarquia sucumbe apenas 19 anos após o fim do conflito, muito embora Brasil e Argentina tenham conquistado territórios pertencentes ao Paraguai.
Por certo, a pátria de López também não ganhou nada. Ao contrário. Ao fim do conflito, sua estrutura foi praticamente arrasada. Nunca mais o Paraguai há de desfrutar o poder ostentado no governo de Francia. A pequena industrialização paraguaia que alcançara algum progresso, simplesmente desaparece do mapa. Claro que, em História, não há um se, mas o Paraguai seria hoje um país bem diferente se não tivesse ocorrido o conflito. Hoje, é uma das nações mais pobres do continente e, no Brasil, é associada, na maioria das vezes injustamente, ao contrabando e à pirataria. O Uruguai, cuja participação na guerra foi forte no início, e depois apenas simbólica, não ganhou territórios nem o pagamento de indenizações de guerra, que Brasil e Argentina receberam por algum tempo.
O Uruguai não foi também um dos ganhadores do conflito. Ao contrário. Ele permaneceu instável em termos políticos e só muito depois conquistou sua estabilidade.
Excluindo tais protagonistas, o conflito teve apenas um vencedor: a Argentina. Além de obter territórios há tempos em disputa com o Paraguai, a Argentina conquista sua unificação exatamente nesse período, por pressão da guerra, que força a união dos argentinos contra um inimigo comum. Cabe lembrar que, antes da guerra, a Argentina era dividida em duas _ uma com sede em Buenos Aires, governada por Mitre, e outra com sede em Paraná, Corrientes, sob o mando de Urquiza. O conflito permite a união do país e sua ascensão para segunda potência do hemisfério, atrás do Brasil. O quadro perdura até os dias atuais.
A verdade é que, ao Império do Brasil, coube todo o peso e esforço da guerra; aos platinos, a satisfação de sua ambição de expansão territorial, conseguida à custa da ingenuidade e boa-fé brasileira. O Exército brasileiro superou, em certos momentos, cem mil homens; a Argentina, 12 mil. No fim do conflito eram apenas quatro mil argentinos nos campos da luta, diante dos 70 mil soldados brasileiros. Quanto à esquadra, a comparação é quase ridícula: a Argentina valeu-se de duas naus de rio, o Brasil de toda a sua Armada, a mais poderosa da América Latina. Quem ganhou a Guerra do Paraguai? Ao leitor fica o julgamento; o meu está no texto.
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